domingo, 11 de enero de 2009

O alugel dos nossos olhos e ouvidos

por Marcia Tiburi

A Indústria Cultural substituiu a totalidade daquilo
que antigamente as pessoas chamavam de arte,
mas manteve a promessa de felicidade que a arte
promovia. Raramente alguém que diga Indústria
Cultural sabe o que está a dizer.

A própria expressão cunhada num livro de 1947
por dois autores– Max Horkheimer e Theodor Adorno –
sempre criticados por quem jamais os leu de fato,
foi apropriada pela indústria que, no ato mesmo
de apropriação, aniquilou seu potencial crítico.
Ler ou simplesmente citar autores críticos já faz,
de certo modo, parte da Indústria Cultural,
mas entender o que eles possam ter dito não faz.
É assim que, hoje, enquanto o crítico dos produtos
culturais usa a expressão com certa vergonha
por achá-la inatual, a empresa de entretenimento
com franqueza invejável diz agir em nome
da Indústria Cultural. A expressão deixou de ser
sinônimo de crítica ao lixo cultural (Adorno,
por exemplo, dizia que “toda” a cultura era lixo,
reaproveitando Freud).
Ninguém mais vê mal algum em que a cultura possa
ser associada a algo como lixo ou que haja lixo como
cultura. Falar de lixo já não assusta. É claro que toda
cultura tem relação com o resto da cultura anterior,
com o que sobra da pesquisa científica e da produção
artística. É certo que toda cultura de massa vive
da alimentação que eruditos e populares fornecem às massas,
verdade que a construção da ideologia que alimenta as massas
vêm de cima pra baixo e, por isso, se falar que cidadãos
comuns chafurdam na lama da cultura não é nada demais,
muito menos dizer que se lambuzam na cultura de massas.
Que o lixo seja cultura é normal e aceitável.
Em vez de criar temos que reciclar.
Toda a cultura torna-se pastiche...


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